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Luto no Programa Pânico: Morre grande artista, infelizmente el… Ver mais

Era um domingo como outro qualquer, calmo e aparentemente sem surpresas. Mas, naquela tarde, o riso brasileiro perdeu uma de suas vozes mais singulares. Mônica Vidal de Souza — eterna “Marleninha Matos” — nos deixou de forma repentina, aos 59 anos. O país despertou, na segunda-feira (26), com a notícia que soava como uma piada de mau gosto: como poderia partir tão de repente alguém tão cheia de vida, ousadia e talento?

Mônica estava em casa, na cidade de Vinhedo (SP), onde levava uma vida tranquila. Segundo os familiares, ela sofreu um mal súbito, sem apresentar nenhum sinal prévio. Nenhuma dor, nenhuma queixa. Apenas um silêncio repentino que interrompeu a trajetória de uma mulher que transformou o humor em arte viva.

O Velório de Uma Rainha do Improviso: “Parecia uma Pegadinha”

O adeus aconteceu na segunda-feira, com velório ao meio-dia e sepultamento às 16h, no Cemitério Municipal de Vinhedo. O clima era de incredulidade. Amigos, fãs e familiares se despediam tentando entender o que parecia um roteiro de pegadinha — daquelas que a própria Mônica poderia ter inventado, com sua voz potente e humor afiado.

Nascida em São Paulo, em 18 de janeiro de 1966, Mônica construiu sua carreira com persistência, talento e coragem em um cenário majoritariamente masculino. Mas foi em 2004 que seu nome explodiu no imaginário popular.

Naquele ano, durante uma gravação inusitada do programa Pânico na TV, então exibido pela RedeTV!, Rodrigo Scarpa, o “Vesgo”, invadiu a sede da Band. E ali, em meio ao caos, uma figura secundária brilhou mais do que o próprio foco da matéria. Surgia “Marleninha Matos”, personagem criada por Mônica como uma sátira da empresária Marlene Mattos — uma caricatura tão exagerada que extrapolava a paródia e se tornava uma performance inesquecível.

Rodrigo Scarpa, emocionado, relembrou o momento nas redes sociais:
“Foi ali, naquele vídeo maluco de 2004, que tudo começou. Mônica virou estrela instantânea. Aquele episódio rendeu picos de audiência e colocou a RedeTV! à frente da Record, coisa rara na época. Ela era um furacão de criatividade.”

Colegas de profissão, como o humorista Carioca, também se manifestaram, com pesar contido:
“Que pena… Meus sentimentos.”

Riso Público, Dor Privada: Os Bastidores de Uma Vida de Entrega

Atrás da figura excêntrica e irreverente, existia uma mulher de profundidade rara. Quem conheceu Mônica de perto sabia que seu talento era tão grandioso quanto sua generosidade. Vera Barbosa, prima e confidente da artista, revelou um lado desconhecido do público:
“A Mônica cuidava da mãe, que tem Alzheimer. Sempre foi muito dedicada, mesmo nos bastidores. Estava saudável, não tinha histórico que nos preocupasse. Foi um choque total”, disse, entre lágrimas.

Mônica sabia equilibrar o espetáculo com o silêncio. Sua vida privada era marcada por responsabilidade, empatia e discrição. Ela nunca buscou o glamour da fama. Preferia o anonimato da criação, onde podia dar vida a novas ideias, personagens e críticas sociais camufladas em humor.

Colegas próximos contam que ela mantinha cadernos recheados de esquetes, roteiros e personagens inéditos.
“Ela sonhava voltar com um projeto próprio. Queria fazer algo mais maduro, sem deixar de lado o sarcasmo”, confidenciou uma amiga próxima que pediu para não ser identificada.

Infelizmente, esse projeto nunca saiu do papel. Mas o que Mônica criou — e o que representou — já é, por si só, um legado de resistência e criatividade.

A Mulher Que Transformou o Riso em Ativismo Cultural

Em uma época em que o humor enfrenta limitações, pressões e novos contornos, Mônica Vidal simboliza uma era em que rir era um ato de coragem. Sua irreverência escancarava verdades, ridicularizava o poder e trazia frescor ao público sedento por originalidade.

“Marleninha Matos”, seu personagem mais icônico, não era apenas uma sátira — era um grito cômico contra a caretice e a opressão disfarçada de autoridade. Era exagero com propósito. Era performance com crítica.

Mônica representava a alma do humor que cutuca, questiona e desconstrói. Ela fazia parte de uma geração que transformou a televisão brasileira — muitas vezes limitada por padrões e fórmulas — em um palco de ousadia.

Sua ausência não será apenas sentida. Ela será sentida, lembrada e reverenciada. Porque enquanto muitos vivem para aparecer, Mônica viveu para provocar riso e reflexão. E essa missão, ela cumpriu com maestria.

O Silêncio Que Fica, e o Riso Que Permanece

A morte de Mônica Vidal não marca apenas o fim de uma vida, mas o encerramento de um capítulo essencial do humor nacional. Uma mulher que entrou como coadjuvante e saiu como ícone. Uma artista que conquistou corações com uma personagem caricata, mas deixou um impacto profundo como ser humano.

Em tempos de pressa, de polarizações e de superficialidade, Mônica nos ensinou algo simples e poderoso: rir é urgente, é necessário, é quase um ato revolucionário.

Seu palco agora está vazio, mas o eco da gargalhada continua reverberando. Em cada esquete antiga no YouTube, em cada memória de domingo à noite diante da TV, em cada bordão que ainda arranca um sorriso.

Mônica se foi — mas sua arte permanece viva, vibrante e necessária.

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