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Moraes bate o martelo e diz a Bolsonaro que de segunda não passa a s… Ver mais

O cerco jurídico em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se estreita mais uma vez. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou nesta sexta-feira (17) o segundo pedido da defesa do ex-mandatário para adiar as audiências com testemunhas na ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022.

Com essa decisão, o Supremo sinaliza que não pretende tolerar manobras protelatórias. O julgamento, que promete entrar para os livros de História, avança em meio a estratégias jurídicas, embates políticos e um acervo probatório considerado sem precedentes.

O início das oitivas: as peças do tabuleiro começam a se mover

A partir de segunda-feira (19), terão início as oitivas das testemunhas ligadas ao chamado “núcleo 1” — grupo considerado o coração do suposto plano golpista que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito em 2022. Esse núcleo inclui militares da reserva, assessores e aliados próximos a Bolsonaro, todos apontados como protagonistas em ações para desacreditar o sistema eleitoral e tumultuar a transição de governo.

Mesmo diante de pedidos insistentes da defesa para adiar os depoimentos, alegando falta de tempo hábil para analisar o conteúdo das investigações, o STF se manteve inflexível. A determinação de Alexandre de Moraes reforça o compromisso da Corte com a celeridade e o cumprimento das etapas legais do processo.

O momento marca o primeiro grande teste da fase de instrução probatória, quando testemunhas serão ouvidas e provas analisadas mais a fundo. É a partir daí que o país poderá ver de forma mais clara as engrenagens do que teria sido uma tentativa de ruptura institucional.

A avalanche de dados da PF e o argumento da defesa

Em sua tentativa de adiar o início das audiências, a defesa de Jair Bolsonaro alegou um motivo técnico: a Polícia Federal disponibilizou recentemente cerca de 40 terabytes de material probatório, o que incluiria vídeos, mensagens, áudios e documentos. Um volume gigantesco, que, segundo os advogados, tornaria impossível montar uma defesa adequada em tão pouco tempo.

A estratégia era clara: insistir que, sem o exame minucioso desse material, o direito ao contraditório e à ampla defesa estaria comprometido.

No entanto, o ministro Alexandre de Moraes não se deixou convencer. Em despacho firme, ele apontou que a disponibilização do novo conteúdo não altera os fundamentos da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tampouco modifica os fatos já aceitos pelo STF:

“A disponibilização desse material, entretanto, em nada alterou os fatos imputados na acusação […] cuja instrução probatória terá início com a audiência para oitiva das testemunhas indicadas”, destacou Moraes.

O posicionamento do ministro dá sequência à linha dura adotada desde os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes. A prioridade é clara: evitar que os investigados ganhem tempo e minar qualquer tentativa de obstrução.

Tentativas de adiamento viram rotina da defesa

Esta é a segunda vez em menos de uma semana que a defesa de Bolsonaro tenta adiar o processo. A primeira investida ocorreu em 13 de maio, quando os advogados alegaram não ter tido acesso completo às provas da investigação. Na ocasião, o argumento também não sensibilizou o STF.

Nos bastidores, cresce a percepção de que a insistência da defesa em adiar a fase de instrução é uma manobra deliberada para retardar o avanço do processo. Com um acervo de provas considerado robusto, os advogados do ex-presidente buscam tempo para reorganizar sua linha de atuação diante do tribunal.

Para muitos juristas, essa tentativa de ganhar tempo é uma tática comum em processos de grande complexidade, mas que dificilmente se sustenta quando o Judiciário adota uma postura firme e técnica. Moraes, como relator do caso, tem mostrado pouco espaço para tergiversações.

Mais que um julgamento: as consequências políticas em jogo

A ação penal contra Jair Bolsonaro já é vista como um dos julgamentos mais relevantes da história política recente do Brasil. Não apenas pela figura central envolvida — um ex-presidente da República —, mas pela profundidade das acusações, que podem redefinir os limites da atuação política no país.

Caso condenado, Bolsonaro poderá se tornar inelegível e comprometer diretamente os planos do Partido Liberal (PL) para as eleições de 2026. Para a direita brasileira, ainda fortemente mobilizada em torno do ex-presidente, o impacto seria profundo e potencialmente desmobilizador.

Nos bastidores políticos, há quem veja no avanço da ação um “julgamento político disfarçado de judicial”, como alegam aliados de Bolsonaro. Para opositores, no entanto, trata-se de um passo essencial para a responsabilização daqueles que atentaram contra a democracia.

Independentemente do lado em que se esteja, o fato é que esse processo poderá definir os contornos do debate democrático no Brasil nos próximos anos — inclusive os critérios de responsabilização de líderes por atos institucionais.


Conclusão: O relógio da Justiça está em contagem regressiva

Com a negativa do ministro Alexandre de Moraes e a manutenção do cronograma de oitivas, a Justiça brasileira dá um passo decisivo em um processo que pode ser emblemático para a democracia nacional.

Mais do que um julgamento técnico, trata-se de um momento histórico que testará o funcionamento das instituições diante de tentativas de ruptura. O andamento célere do processo demonstra que o STF não pretende abrir brechas para atrasos desnecessários.

As próximas semanas prometem ser intensas. E o Brasil assiste, atento, ao desenrolar de um caso que poderá redefinir a linha tênue entre liberdade política e responsabilidade institucional.


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