
Em uma entrevista de peso à prestigiada revista norte-americana The New Yorker, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez declarações incisivas sobre o cenário político do Brasil. Com fala firme, ele descartou qualquer possibilidade de Jair Bolsonaro voltar a disputar eleições, destacando sua inelegibilidade como praticamente irreversível. O conteúdo foi revelado em um perfil assinado pelo jornalista Jon Lee Anderson, conhecido por suas análises profundas de lideranças políticas globais.
As falas de Moraes não apenas reafirmam o cerco jurídico em torno do ex-presidente, como também abrem espaço para reflexões sobre o futuro do bolsonarismo — especialmente diante da crescente especulação sobre seus possíveis herdeiros políticos.
Bolsonaro fora do jogo: inelegibilidade é considerada definitiva
Segundo Alexandre de Moraes, não há qualquer brecha legal que permita o retorno de Jair Bolsonaro às disputas eleitorais. O ex-presidente foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dois processos distintos, cujas condenações já foram encaminhadas ao STF. Embora, em teoria, o Supremo pudesse reverter essas decisões, Moraes foi categórico: “Não vejo a menor possibilidade de reversão”.
A fala do ministro reforça o entendimento de que a inelegibilidade de Bolsonaro está consolidada — um ponto que muda completamente o tabuleiro político para 2026. Ainda que o ex-presidente continue sendo uma figura de enorme apelo junto a uma parcela do eleitorado, seu caminho institucional está, ao que tudo indica, selado.
O dilema da sucessão: quem herdará o capital político de Bolsonaro?
Com Bolsonaro fora do páreo, a pergunta que paira sobre o campo conservador é: quem será seu sucessor natural? Moraes abordou esse ponto com franqueza, reconhecendo que há especulações em torno de Michelle Bolsonaro e dos filhos do ex-presidente — nomes que já circulam em agendas políticas e nas redes sociais como potenciais herdeiros.
No entanto, Moraes faz uma ressalva importante: “Nenhum deles tem o mesmo peso junto às Forças Armadas”. O ministro destaca que parte da força de Bolsonaro veio de sua relação simbiótica com os militares, construída ao longo de sua trajetória. Essa conexão, segundo ele, dificilmente será replicada por outro nome — mesmo dentro da família.
Michelle tem ganhado visibilidade e tenta se consolidar como figura pública, mas analistas apontam que ela ainda carece de experiência eleitoral robusta. Já os filhos de Bolsonaro, embora tenham mandatos parlamentares, não demonstram a mesma capacidade de mobilização nacional que o pai alcançou.
Crise de identidade no bolsonarismo: haverá vida sem o “mito”?
O bolsonarismo, como força política, nasceu do carisma e da retórica incendiária de seu líder. Com Bolsonaro fora das urnas, o movimento enfrenta um desafio existencial: manter sua base engajada sem sua figura central. Essa possível “orfandade política” pode fragmentar o grupo, dando margem para disputas internas ou mesmo para o surgimento de novos representantes da direita radical.
A perda de protagonismo junto às Forças Armadas, mencionada por Moraes, é outro fator que pode enfraquecer o movimento. O ex-presidente construiu um canal direto com os militares — algo que foi essencial para sua governabilidade e para projetar sua autoridade. Sem esse apoio institucional, qualquer sucessor terá que se reinventar para manter a influência do bolsonarismo viva no cenário político.
O olhar do mundo: repercussão internacional e defesa da democracia
O fato de a entrevista ter sido publicada por uma das revistas mais respeitadas dos Estados Unidos mostra que o mundo está atento ao futuro do Brasil. O jornalista Jon Lee Anderson traça um retrato de Moraes como uma das figuras-chave na defesa da democracia brasileira, em um momento em que discursos autoritários ganham espaço globalmente.
Essa visibilidade internacional não é por acaso. Moraes tem sido protagonista de decisões polêmicas e duras contra atos considerados antidemocráticos, como os ataques de 8 de janeiro de 2023. Suas posições firmes colocam-no como um símbolo do embate entre instituições e extremismo — um embate que, pelo visto, ainda está longe de terminar.
Conclusão: um novo capítulo se abre na política brasileira
A contundente entrevista de Alexandre de Moraes joga luz sobre uma nova fase da política nacional. Com a inelegibilidade de Bolsonaro praticamente consolidada e as investigações criminais ainda em andamento, o futuro do bolsonarismo dependerá de sua capacidade de se reinventar sem seu principal nome.
A direita radical pode até tentar se reconfigurar sob novos rostos — talvez Michelle, talvez um dos filhos —, mas o peso simbólico e a conexão direta com as Forças Armadas dificilmente serão replicados. Mais do que uma simples troca de liderança, o movimento enfrenta o desafio de manter seu fôlego em um cenário onde a Justiça se mostra vigilante e a democracia, embora pressionada, permanece resiliente.
O jogo político de 2026 promete ser disputado por novos protagonistas. E, se depender de Moraes e das instituições que ele representa, será um jogo com regras claras — e sem espaço para aventuras autoritárias.