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FOI CONFIRMADO: Suzane von Richthofen acaba de ser… Ver mais

Decisão histórica reacende o debate sobre liberdade de expressão no Brasil

Em uma sentença que promete reverberar por muito tempo no meio jurídico e jornalístico, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decidiu a favor do jornalista e escritor Ullisses Campbell em um processo movido por Suzane Louise Magnani Muniz — mais conhecida pelo nome que marcou tragicamente a história criminal brasileira: Suzane von Richthofen.

A ex-detenta buscava uma indenização de R$ 60 mil e uma retratação pública, alegando ter sido ofendida por publicações no blog e no Instagram do jornalista. Porém, para a Justiça, as declarações não ultrapassaram os limites legais e constitucionais da liberdade de expressão, sendo de legítimo interesse público.

As declarações que motivaram o processo

Segundo Suzane, duas passagens específicas teriam afetado sua honra: o fato de ter sido chamada de “ilustre psicopata” e a menção de que morava em Águas de Lindóia (SP).

Ela afirmou ter sofrido constrangimento, humilhação e prejuízos à sua imagem. Entretanto, a juíza Ana Paula Schleiffer Livreri considerou que as publicações tinham caráter informativo, dentro de um contexto jornalístico legítimo, e que o interesse público prevalecia, dada a notoriedade do crime pelo qual Suzane foi condenada.

A magistrada destacou que o termo “psicopata” descreve uma perturbação de personalidade associada a comportamentos antissociais — algo compatível com o crime cometido. Além disso, ressaltou que uma retratação pública poderia ter efeito inverso ao pretendido, ampliando a repercussão do caso.

Defesa do jornalista: “Ela perdeu todas”

A defesa de Ullisses Campbell, conduzida pelo advogado Alexandre Fidalgo, foi categórica: não houve ataque pessoal ou calúnia, mas apenas exposição de fatos amplamente conhecidos.

Essa é a terceira ação que a Suzane move contra o meu cliente. Uma delas tentou proibir a publicação de um livro. Mas ela perdeu todas”, afirmou Fidalgo.

Segundo o advogado, a expressão “ilustre psicopata” está fundamentada não apenas no histórico criminal de Suzane, mas também na maneira como ela continua sendo retratada na imprensa e percebida pela opinião pública.

O papel do jornalismo e a menção à residência

Sobre a citação à cidade onde Suzane vive, a juíza foi clara: não houve ilegalidade.

“A situação específica dos comentários lançados pelo réu, a respeito da moradia da autora junto à Cidade de Águas de Lindóia, não configura por si só ato ofensivo”, registrou. Ela entendeu que a informação não foi exposta de forma sensacionalista e não representou ameaça ou violação à integridade moral da autora.

Essa parte da decisão reforça um ponto crucial: o jornalismo tem o dever de informar, mesmo que os envolvidos prefiram o silêncio.

Histórico de embates judiciais entre Campbell e Suzane

Não é a primeira vez que Ullisses Campbell enfrenta processos relacionados à cobertura do caso Richthofen. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou uma decisão de censura prévia que impedia a publicação de seu livro sobre o crime.

A obra foi lançada no ano seguinte, reacendendo debates sobre a trajetória de Suzane após a prisão e sua tentativa de viver longe dos holofotes — um contraste com suas frequentes aparições em entrevistas e reportagens.

O crime que chocou o país e o simbolismo da decisão

O caso Richthofen, ocorrido em 2002, continua sendo um dos episódios mais marcantes da crônica policial brasileira. Aos 18 anos, Suzane ajudou a planejar e executar o assassinato dos pais, Manfred e Marísia, com a ajuda do namorado Daniel Cravinhos e do cunhado Cristian Cravinhos.

O crime, cometido enquanto os pais dormiam, chocou pela frieza e premeditação, além de contrariar o estereótipo da jovem de classe alta, bem-educada e sem antecedentes criminais.

A decisão do TJSP, ao favorecer o jornalista, reafirma um ponto essencial: a liberdade de imprensa não pode ser sufocada por figuras públicas que buscam apagar capítulos de suas histórias que são de interesse coletivo.

Especialistas em direito e comunicação veem nesse julgamento um marco para delimitar os contornos entre liberdade de expressão e abuso, mantendo vivo o debate sobre o papel do jornalismo na preservação da memória social.


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