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Médico revela os detalhes da morte de jovem brasileira que caiu em trilha de vulcão: ‘Fal… Ver mais

O que começou como uma expedição vibrante por paisagens vulcânicas na Indonésia terminou em desespero e luto. Após quatro dias de buscas incessantes, foi confirmado nesta terça-feira (25) o pior desfecho: Juliana Marins, brasileira de 26 anos, foi encontrada sem vida entre 2600 e 3000 metros de altitude, em uma região de difícil acesso, onde o frio e o terreno desafiador tornam a sobrevivência uma batalha quase impossível.

Juliana havia sido dada como desaparecida após não retornar de uma trilha popular entre turistas que buscam adrenalina e conexão com a natureza. A área, conhecida por sua beleza selvagem, exige preparo físico, equipamentos adequados e conhecimento sobre os perigos naturais. Infelizmente, essa viagem dos sonhos se transformou em uma tragédia silenciosa.

A notícia comoveu familiares e amigos, que vinham acompanhando com apreensão os esforços de resgate. Pelas redes sociais, choveram homenagens à jovem, lembrada por seu espírito livre, amor pelas trilhas e vontade de explorar o mundo. Mas por trás da comoção, um alerta urgente se impõe: a natureza não perdoa descuidos.


Quando o corpo chega ao limite: o que levou Juliana à exaustão fatal

As circunstâncias da morte de Juliana apontam para uma sucessão de fatores fisiológicos extremos. Em entrevista à CARAS Brasil, o médico Dr. Wandyk Allison, com experiência em fisiologia em ambientes hostis, detalhou os efeitos devastadores enfrentados pelo organismo da jovem.

“A exposição por quatro dias inteiros sem alimentação, sem água, com frio extremo e pouco oxigênio foi demais pro corpo dela aguentar”, afirmou o especialista.

Segundo ele, o corpo humano tem mecanismos de defesa surpreendentes, mas há limites biológicos que, uma vez ultrapassados, não permitem recuperação. Juliana enfrentou desidratação severa, hipoglicemia, hipoxia (baixo oxigênio) e, possivelmente, falência múltipla dos órgãos. Cada uma dessas condições, por si só, já representaria risco. Combinadas, tornaram a situação insustentável.


Desidratação, hipoglicemia e frio extremo: os vilões invisíveis das montanhas

Entre os primeiros impactos apontados está a desidratação extrema. Em altitudes elevadas e ambientes secos, o corpo perde líquidos rapidamente — seja por suor, respiração acelerada ou pela baixa umidade. Sem reposição adequada, o sangue torna-se mais espesso, com maior concentração de sódio, o que compromete a função renal.

“O corpo, na tentativa de conservar água, libera mais hormônio antidiurético (ADH), o que gera sobrecarga nos órgãos internos”, explicou Dr. Wandyk.

O jejum prolongado também impôs um estresse intenso ao metabolismo. Nos dois primeiros dias sem alimento, o organismo ainda consegue manter os níveis de glicose. Depois, passa a utilizar as reservas de gordura, entrando em um estado de cetose que compromete músculos, inclusive o cardíaco.

“Sem ingestão de carboidratos e com alta altitude e frio, o corpo vai entrando em colapso hidroeletrolítico progressivo”, completou o médico.

Além disso, a hipotermia é um inimigo silencioso nas montanhas. Temperaturas abaixo de zero consomem rapidamente o calor corporal. O corpo tenta reagir com tremores, vasoconstrição e aceleração dos batimentos cardíacos. Porém, quando a temperatura interna cai demais, pode haver confusão mental, sonolência extrema e, por fim, falência cardíaca.


A altitude como armadilha: quando respirar se torna um desafio mortal

O local onde Juliana foi encontrada está próximo da linha dos 3000 metros de altitude. Nessa faixa, a concentração de oxigênio no ar já está cerca de 30% abaixo do nível do mar. Para compensar, o corpo passa a hiperventilar — respirar mais rápido —, o que sobrecarrega pulmões e coração.

A hipoxia, ou privação de oxigênio, pode provocar sintomas como tontura, náusea, delírios e alucinações. “Pode surgir um edema pulmonar, falta de ar repentina, tontura. E no cérebro, o baixo nível de oxigênio pode causar delírios, alucinações, confusão mental”, descreveu Dr. Wandyk.

Esse desequilíbrio compromete ainda mais o funcionamento dos órgãos vitais. O coração acelera para suprir a falta de oxigênio, os rins tentam filtrar resíduos com menos sangue disponível e o cérebro entra em colapso neuroquímico. A essa altura, o corpo está travando uma batalha desigual.

“O que possivelmente levou Juliana à morte foi uma soma cruel de todos esses fatores: desidratação, hipotermia, falência renal, hipoxia, distúrbios nos sais do corpo… tudo isso junto em apenas quatro dias”, completou o especialista. “São agressões fisiológicas sucessivas, em ambiente hostil. O corpo tenta resistir, mas chega uma hora que não dá mais.”


Um alerta para aventureiros: a beleza extrema da natureza exige preparo extremo

O caso de Juliana Marins não é isolado — e serve como um chamado à consciência para quem se aventura por regiões remotas. Trilhas em áreas vulcânicas ou de alta montanha exigem preparo físico rigoroso, treinamento prévio, equipamentos adequados, além de conhecimento sobre primeiros socorros e mudanças climáticas repentinas.

Infelizmente, a confiança na resistência pessoal ou o desconhecimento sobre os riscos ainda levam muitos turistas a subestimar o poder da natureza. Mesmo trilhas “populares” escondem perigos sérios quando feitas sem acompanhamento de guias locais ou sem planejamento de segurança.

A tragédia de Juliana ecoa como um apelo: conhecer o mundo é uma das experiências mais enriquecedoras da vida, mas não pode ser feita sem responsabilidade. A natureza, com toda sua beleza, também impõe limites inegociáveis.

Família, amigos e seguidores prestam homenagens à jovem que partiu cedo demais. Seu legado, porém, pode salvar vidas, ao lembrar que preparo, cautela e respeito às forças naturais são tão essenciais quanto o desejo de explorar.

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