FOI CONFIRMADO: 17 anos após crime Alexandre Nardoni foi s…

Na última segunda-feira, dia 6, um episódio que parecia distante e até inimaginável ganhou forma discretamente nos corredores da Penitenciária II de Tremembé, localizada no interior de São Paulo. Sem flashes de câmeras, sem discursos ou qualquer alarde, Alexandre Nardoni — condenado por um dos crimes mais revoltantes da história recente do Brasil — atravessou os portões do presídio. Era exatamente 18h10 quando sua liberdade foi oficializada.
Portando um alvará de soltura, Alexandre deixou para trás 16 anos de prisão, parte deles em regime fechado e outra parte no semiaberto. Seu destino agora é a cidade de São Paulo. Mas, como muitos afirmam, há marcas de um passado impossível de apagar.
Sua liberdade, porém, não é plena. Vem acompanhada de uma série de restrições impostas pela Justiça: Nardoni deverá permanecer em casa durante a noite, comprovar vínculo de trabalho em até 90 dias, apresentar-se periodicamente à Vara de Execuções Criminais, entre outras condições. Ainda assim, a decisão judicial provocou indignação e perplexidade em boa parte da população brasileira.
Do Tribunal à Liberdade: O Caminho Polêmico de Alexandre Nardoni
A trajetória de Alexandre Nardoni, desde o dia da condenação até o momento de sua soltura, é marcada por controvérsias e emoções profundas. Em 2010, ele foi sentenciado a mais de 30 anos de prisão pelo assassinato brutal da própria filha, Isabella Nardoni, então com apenas cinco anos.
O caso, ocorrido em março de 2008, chocou o país de maneira incomparável. A imagem da menina, pequena e indefesa, sendo arremessada do sexto andar de um prédio na Zona Norte da capital paulista, permanece gravada na memória coletiva nacional. Depoimentos, perícias técnicas e a frieza demonstrada durante o julgamento transformaram o processo em um marco de indignação pública.
Anna Carolina Jatobá, madrasta da menina, também foi condenada e, assim como Alexandre, já está em liberdade. Hoje, os dois voltam a compartilhar o mesmo endereço: a residência do empresário Antônio Nardoni, pai de Alexandre, situada no bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo.
Essa convivência reacende questionamentos sociais, jurídicos e até morais. De acordo com o laudo social que respaldou a decisão judicial, Alexandre também terá um emprego garantido: trabalhará como funcionário na construtora de seu pai.
“Com a recente perda materna, em liberdade, passará a morar com seu pai, esposa, irmão e filhos”, afirma o documento oficial. A situação quase se assemelha a um enredo ficcional, mas é real. Um detalhe que só intensifica a sensação de desconforto em boa parte da sociedade.
Reintegração ou Nova Ofensa à Memória de Isabella?
A defesa de Alexandre Nardoni, liderada pelo advogado Roberto Podval, não hesitou em celebrar a decisão da Justiça. Para ele, o direito à progressão de regime é legítimo e incontestável.
“A decisão é irretocável”, declarou Podval. “Se não pensarmos na ideia de reabilitação, a pena terá um efeito perverso.” Em sua análise, o tempo de pena cumprido, os estudos realizados durante os anos de encarceramento e a boa conduta do réu justificam plenamente a liberdade concedida.
Os números, de fato, jogam a favor de Nardoni. Ao longo de sua prisão, ele acumulou benefícios por meio de estudos e trabalho, reduzindo cerca de 990 dias de sua pena — o equivalente a quase três anos. Somado a isso, a legislação brasileira, por meio da Lei de Execução Penal, estabelece critérios que, mesmo para crimes hediondos, permitem a progressão para o regime aberto, desde que cumpridos os requisitos.
No entanto, o Ministério Público de São Paulo discorda da decisão. Já apresentou recurso pedindo a reversão da liberdade, argumentando que a gravidade do crime e seu impacto social deveriam ter mais peso na avaliação judicial. Enquanto o recurso não é analisado, Alexandre permanece livre, mas sob o olhar atento de uma sociedade que ainda carrega as cicatrizes desse crime.
Uma Ferida Que o Brasil Ainda Não Conseguiu Fechar
O assassinato de Isabella Nardoni não foi apenas mais um caso de violência doméstica entre tantos outros que acontecem no país. Ele provocou um abalo emocional profundo e duradouro na sociedade brasileira.
O crime, cometido com brutalidade extrema e envolvendo uma criança de apenas cinco anos, tornou-se um divisor de águas nas discussões sobre justiça, impunidade e sistema penal no Brasil. Em 29 de março de 2008, a pequena Isabella caiu do sexto andar do edifício onde o pai e a madrasta moravam. O que inicialmente foi apresentado como um acidente logo revelou-se um episódio de violência, manipulação e frieza.
De acordo com a decisão judicial, Isabella foi agredida antes de ser jogada pela janela. Um ato cometido por quem, teoricamente, deveria zelar por sua vida e bem-estar. A comoção foi nacional. Protestos, manifestações e uma cobertura jornalística intensa transformaram o caso em um símbolo de revolta.
Agora, com a saída de Alexandre Nardoni da prisão, novas questões surgem: Qual é o limite da reintegração social? A justiça deve apenas punir ou também oferecer reabilitação? Como lidar com a indignação pública quando a lei permite a liberdade de alguém condenado por um crime dessa magnitude?
Ao cruzar a porta principal da penitenciária, Alexandre não apenas conquistou a liberdade jurídica, mas também ingressou em um território invisível, onde será permanentemente observado e julgado pela opinião pública.
Seu rosto, eternizado nas capas de jornais e nos noticiários televisivos, carrega um estigma difícil de ser apagado. Sua presença em liberdade reacende debates que vão muito além de sua vida particular. Toca na ferida de um país que ainda tenta, em vão, entender como um crime tão brutal foi possível — e, agora, como lidar com a liberdade de quem o cometeu.
Porque, como tantos afirmam nas redes sociais e nas ruas, certos crimes não terminam quando a porta da cela se fecha. Eles continuam ecoando, ano após ano, na memória de uma nação inteira.
