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Advogado morre após fazer algo que todos nos fazemos em nossas casas, beb… Ler mais

Uma morte que poderia ter sido evitada

A morte do advogado Marcelo Macedo Lombardi, de 45 anos, trouxe à tona uma realidade alarmante em São Paulo: o risco crescente do consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. Dono de uma imobiliária na região do Sacomã, Zona Sul da capital, Marcelo faleceu após sofrer falência múltipla de órgãos, causada pela intoxicação por metanol — uma substância altamente tóxica e proibida para ingestão humana.

O advogado, reconhecido pela atuação na área jurídica e como referência para a família, transformou-se em símbolo de uma luta urgente contra o comércio ilegal de bebidas contaminadas. O caso dele deixou claro que o perigo não está apenas em produtos falsificados vendidos às escondidas, mas em garrafas que chegam às prateleiras de bares e pontos de venda frequentados pela população.

Os últimos momentos: sintomas e desespero da família

Segundo familiares, Marcelo despertou em casa com sintomas devastadores: estava desorientado e não conseguia enxergar. Imediatamente, a esposa e a mãe o levaram ao hospital. Entretanto, o quadro se agravou rapidamente. Poucas horas depois, ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

O impacto da perda foi profundo. “Perdemos a nossa base. Ele era o pilar da família”, disse, emocionada, a irmã Fernanda Lombardi, também advogada e sócia do irmão. A frase reflete a dor dos familiares e amigos, que enxergam na tragédia uma consequência direta da falta de fiscalização e de medidas preventivas mais severas.

A escalada das intoxicações por metanol em São Paulo

O caso de Marcelo não é isolado. Dados do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo (CVS-SP) apontam que, até a última segunda-feira (29), seis intoxicações por metanol já haviam sido confirmadas no Estado, e outras dez estavam em investigação. Além de Marcelo, outras duas pessoas perderam a vida — uma em São Bernardo do Campo e outra na capital paulista.

A gravidade do problema ganhou repercussão nacional após reportagem exibida pelo Fantástico, que mostrou como bebidas adulteradas, vendidas em ambientes de consumo social, têm colocado vidas em risco. A suspeita é de que bares, adegas e pequenos comércios estejam adquirindo lotes contaminados, sem controle adequado de origem.

Por que o metanol é tão letal?

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é uma substância incolor e inflamável, muito semelhante ao etanol — presente nas bebidas alcoólicas comuns. Porém, ao ser ingerido, é convertido pelo organismo em ácido fórmico, um composto tóxico que pode destruir órgãos vitais.

Os efeitos da intoxicação incluem desde cegueira irreversível até falência do fígado e do sistema nervoso central. Uma única dose pode ser suficiente para levar à morte. Embora seja legalmente utilizado em indústrias de solventes, plásticos, tintas e até na produção de biodiesel, o metanol jamais deveria estar presente em bebidas para consumo humano.

Esse é o ponto que reforça a urgência de ações rígidas contra a adulteração: estamos falando de uma substância acessível, mas que em contato com o mercado clandestino transforma-se em arma letal silenciosa.

A resposta das autoridades: medidas emergenciais

Diante da escalada de casos, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) publicou uma nota técnica com recomendações emergenciais destinadas a bares, restaurantes, supermercados, distribuidoras e até plataformas de comércio eletrônico.

Entre as orientações, estão:

  • suspensão imediata da venda de lotes suspeitos;
  • preservação de amostras para perícia;
  • comunicação imediata às autoridades em casos de suspeita;
  • encaminhamento de consumidores sintomáticos diretamente ao hospital.

O MJSP reforçou ainda que a comercialização de bebidas adulteradas é crime, conforme o artigo 272 do Código Penal, com pena de reclusão e multa.

No âmbito estadual, o Procon/SP anunciou a criação de uma força-tarefa em conjunto com o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC). O objetivo é intensificar fiscalizações em bares, adegas e casas noturnas. A recomendação ao público também foi clara:

  • desconfiar de preços muito abaixo do mercado;
  • observar com atenção rótulos e embalagens;
  • buscar atendimento médico imediato diante de sintomas como visão turva, dor abdominal ou confusão mental.

Além disso, a Vigilância Sanitária destacou a importância das denúncias feitas por consumidores, fundamentais para rastrear a circulação de lotes adulterados.

O legado de Marcelo e a luta por mais fiscalização

A morte de Marcelo não ficou restrita aos números. No meio jurídico, sua ausência foi profundamente sentida. A OAB Ipiranga divulgou uma nota de pesar em reconhecimento à sua atuação como vice-presidente da Comissão de Direito Imobiliário (gestão 2022/2024).

“Dr. Marcelo será sempre lembrado pela sua dedicação, amizade e compromisso com a profissão. Neste momento de dor, expressamos nossos mais sinceros sentimentos à família e aos amigos”, dizia o comunicado oficial.

Colegas e clientes reforçaram que a perda vai muito além do impacto familiar. Ela se tornou um marco de alerta para toda a sociedade: se não houver fiscalização rigorosa e punições severas, tragédias semelhantes continuarão a se repetir.

Marcelo Lombardi deixou não apenas a lembrança de um profissional respeitado, mas também a missão de transformar sua morte em um ponto de virada na luta contra bebidas adulteradas no Brasil.

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