
Nos holofotes da música brasileira, ele brilha com talento próprio. Mas longe das câmeras, foi no silêncio dos corredores hospitalares e nos gestos de cuidado diários que Francisco Gil revelou a grandeza que herdou não apenas do nome Gil, mas do amor familiar. Filho único de Preta Gil, o músico de 30 anos enfrentou o capítulo mais desafiador de sua vida ao lado da mãe, que faleceu neste domingo (20), aos 50 anos, após uma longa luta contra um câncer no intestino.
Entre os palcos e o hospital: o equilíbrio entre artista e filho cuidador
Francisco sempre esteve sob os olhares do público por carregar o sangue de uma das famílias mais icônicas da música brasileira. Membro da banda Os Gilsons, ao lado do tio José Gil e do primo João Gil, ele conquistou espaço na nova MPB com sucessos como “Várias Queixas” — que já ultrapassou 70 milhões de reproduções nas plataformas digitais.
No entanto, enquanto sua carreira desabrochava, a vida o chamava para uma missão íntima e desafiadora: ser o pilar da mãe durante o período mais delicado de sua existência.
Mesmo com compromissos musicais e a criação de sua filha, Francisco manteve uma rotina incansável. Dividia-se entre os palcos, os ensaios e os hospitais. E, em todos esses momentos, nunca deixou de estar ao lado de Preta. “Segurava sua mão, ouvia seus medos e sorria com ela nos raros momentos de alívio”, descrevem fontes próximas da família.
A coragem silenciosa de um filho que não arredou o pé
Preta Gil travou sua batalha contra o câncer com muita força, mas ela própria reconhecia o quanto se apoiava em Francisco para continuar lutando. Filho do relacionamento com o ator Otávio Muller, Francisco mostrou maturidade incomum para alguém de sua idade. Tornou-se confidente, cuidador, companhia fiel. Era ele quem estava ali nas noites difíceis, nos dias de incerteza, na intimidade das dores e nos lampejos de esperança.
E mesmo com a rotina exaustiva, não abriu mão da música. Continuou se apresentando com Os Gilsons, honrando compromissos e tocando corações com suas canções. Mas após cada show, o destino era certo: voltava para ela.
Um gesto de amor no Rock in Rio: “Sim, senhores, eu vim!”
Um dos momentos mais simbólicos dessa troca de amor aconteceu em setembro de 2024, quando Preta, mesmo fragilizada, fez questão de prestigiar uma apresentação dos Gilsons no Rock in Rio. Foi levada por carrinhos de apoio, usava equipamentos de proteção, mas sua presença era um grito silencioso de força.
“Sim, senhores, eu vim para o Rock in Rio”, disse com humor, emocionando o público e os bastidores. Era mais que um gesto: era a confirmação de que o elo entre mãe e filho transcendia a dor. Preta queria mostrar que, apesar da luta, ainda podia ser mãe presente — e Francisco, ali do palco, recebia esse gesto com os olhos marejados e o coração cheio.
O reflexo de uma mãe inspiradora: “Ele está mega forte”, dizia Preta
A relação entre os dois sempre foi marcada por cumplicidade e admiração. Em uma de suas últimas entrevistas, Preta Gil contou à revista que sua batalha contra o câncer serviu como um alerta importante para o filho repensar seu estilo de vida.
“Ele está mega forte. Olhou a mãe como exemplo e resolveu se cuidar. Está muito nessa vibe de saúde, treina, faz boxe, yoga…”, disse, orgulhosa.
O relato tocante revela não só a influência positiva de Preta na vida de Francisco, mas também o quanto a dor os conectou ainda mais. Ela serviu de espelho, de incentivo, de farol.
Quando o silêncio fala mais alto: a despedida sem palavras
Nos momentos finais da vida de Preta, foi Francisco quem permaneceu ao seu lado. Em silêncio, presente. Não era preciso dizer nada: o amor que os unia estava em cada gesto, em cada toque, em cada música que embalaram juntos ao longo da vida.
Naquele adeus, Francisco honrou os laços que ultrapassam o sangue: a música, o cuidado, a entrega, a certeza de que amor de verdade não se mede em palavras, mas em presença.
O verdadeiro legado da família Gil pulsa no coração
Francisco Gil é um artista em ascensão, mas, mais do que isso, é herdeiro de um legado que vai muito além dos palcos. Ao acompanhar a mãe até o fim, ele mostrou que o verdadeiro valor da família Gil não está apenas nas notas musicais, mas no sentimento que dá sentido a cada acorde.
Hoje, o Brasil se despede de Preta Gil com saudade e reverência. Mas ao olhar para Francisco, é impossível não enxergar a continuidade de tudo o que ela representou: amor, força, presença e verdade. E enquanto ele seguir cantando — e vivendo — com o coração aberto, a memória de sua mãe continuará ecoando em cada verso, em cada melodia, em cada silêncio que diz tudo.