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Diante do caixão do Papa, Freira tem estranha atitude quando ela põe a mão e… Ver mais

Era uma manhã marcada pelo silêncio reverente e pela despedida de um dos maiores nomes da Igreja Católica. Enquanto milhares de fiéis lotavam a Basílica de São Pedro para o último adeus ao Papa Emérito Bento XVI, um momento inusitado e profundamente humano rompeu a solenidade do protocolo vaticano.

Uma figura franzina, com passos lentos e olhos marejados, cruzou o cordão de isolamento. Mochila verde às costas, a irmã Geneviève Jeanningros, de 81 anos, se aproximou do caixão. Chorando em silêncio, ela ficou ali, em contemplação profunda, diante do corpo do homem que foi, além de Papa, seu amigo pessoal.

O gesto durou poucos minutos, mas ressoou como um trovão em meio à rigidez cerimonial da Cúria Romana. Em um cenário onde cada movimento é roteirizado, a freira francesa reescreveu, com a força do afeto, o significado do adeus.

A freira dos invisíveis: quem é Geneviève Jeanningros?

Geneviève Jeanningros não é uma religiosa qualquer. Integrante da Congregação das Pequenas Irmãs de Jesus, ela vive fora dos holofotes — tanto no espaço físico, morando em um trailer na periferia de Roma, quanto em sua missão evangelizadora, que se estende aos marginalizados e esquecidos pela sociedade. Ela dedica seus dias a acolher imigrantes, pessoas em situação de rua, e membros da comunidade transgênero — um grupo frequentemente deixado à margem até mesmo dentro dos próprios muros da Igreja.

Com 81 anos de idade e uma força interior comovente, Geneviève carrega também uma marca profunda da história latino-americana. Ela é sobrinha de Léonie Duquet, freira francesa sequestrada e desaparecida durante a ditadura militar argentina, em 1977. O caso, emblemático e doloroso, transformou Léonie em símbolo da repressão que devastou milhares de vidas durante o regime de Jorge Videla.

Foi essa conexão com o sofrimento das vítimas da ditadura que acabou criando uma ponte inesperada com outro protagonista dessa história: Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco.

Uma amizade escrita com fé, dor e empatia

Após a eleição de Francisco ao papado, Geneviève decidiu escrever-lhe uma carta. Relembrou o desaparecimento de sua tia na Argentina e compartilhou com ele a dor de uma história que atravessou gerações. A resposta veio — calorosa, humana, verdadeira. Assim nasceu uma correspondência que, com o tempo, floresceu em amizade.

Não era apenas troca de palavras, mas de propósitos. Os dois compartilhavam a mesma visão de Igreja: uma que escuta, acolhe e se dobra diante da dor do próximo. Geneviève passou a levar ao Vaticano pessoas que acompanhava em seu trabalho social — entre elas, os familiares de um médico americano homossexual, morto durante a pandemia de Covid-19, que teve seu funeral negado pela paróquia local.

A freira não aceitou a exclusão. Escreveu a Francisco. E o Papa, mais uma vez, abriu as portas do Vaticano — recebeu a família em audiência privada, reafirmando que, para ele, a misericórdia sempre deve falar mais alto que a norma.

Quando a compaixão fala mais alto que o protocolo

O que Geneviève fez diante do caixão de Bento XVI não foi apenas uma despedida: foi um ato de resistência amorosa. Num ambiente onde regras, cargos e tradições determinam cada passo, ela quebrou o roteiro. E ao fazê-lo, não cometeu uma infração — ela imprimiu humanidade no ritual.

Religiosos, fiéis e até observadores críticos do Vaticano se comoveram. Seu luto não foi um espetáculo; foi um testemunho vivo de afeto, gratidão e reconhecimento. Um gesto silencioso que gritou ao mundo que, mesmo nos momentos mais solenes, há espaço para a emoção genuína.

Ao se ajoelhar diante do Papa emérito, Geneviève também se despediu de um tempo. Um tempo em que a amizade era selada por cartas, que os marginalizados encontravam refúgio nas palavras de um líder espiritual, e que uma freira da periferia de Roma podia emocionar o coração da Igreja com um simples olhar.


O que aprendemos com esse adeus silencioso?

A cena protagonizada por Geneviève Jeanningros vai além do simbolismo religioso. Ela levanta reflexões urgentes sobre o papel da fé, da inclusão e da coragem moral dentro e fora da Igreja.

  • A fé como encontro real: A amizade entre uma freira simples e dois Papas (Bento XVI e Francisco) mostra que a espiritualidade verdadeira se revela na escuta e no cuidado com o outro.
  • Igreja em saída, Igreja que acolhe: Ao trabalhar com transexuais e pessoas marginalizadas, Geneviève encarna o sonho de Francisco de uma Igreja menos preocupada com regras e mais voltada às feridas do mundo.
  • Memória histórica e justiça: A história de sua tia desaparecida na ditadura argentina ainda ecoa — lembrando a todos nós que o passado não pode ser esquecido, e que a reconciliação exige coragem para olhar a dor de frente.
  • Protocolo ou empatia?: A quebra de normas no Vaticano serve como alerta: quando a liturgia se torna mais importante que o coração, perdemos a essência do Evangelho.

Uma despedida que virou símbolo de coragem e amor

Geneviève Jeanningros não segurava cartazes, não clamava por holofotes, e tampouco discursou. Mas bastou seu silêncio carregado de emoção para dizer tudo. Ela se despediu não apenas de um Papa, mas de um amigo. E seu gesto tocou o mundo, porque foi real, puro e cheio de significado.

Em tempos de discursos vazios e dogmas cada vez mais polarizados, a imagem de uma freira idosa, ajoelhada diante do caixão com os olhos marejados, reacende uma verdade esquecida: a fé autêntica se vive com gestos, e não apenas com palavras.

Geneviève nos lembra que os santos do nosso tempo talvez não estejam nos altares, mas nos trailers da periferia, escrevendo cartas com a alma, acolhendo os excluídos e chorando silenciosamente por quem amaram. Que seu gesto nos inspire a viver uma fé com menos protocolos e mais humanidade.

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